domingo, 6 de novembro de 2011

Nao tenho idolos

Não tenho ídolos (comunidade do Orkut). Me perdoem, mas não consigo compreender a necessidade de adorar determinada personalidade por esse ou aquele motivo. Claro que me inspiro em diversas pessoas, que, famosas ou não, com suas ideias e atitudes me ajudaram a ser quem sou hoje. Acredito que deve ser super divertido ficar acompanhando o que seu Fulano anda fazendo, mas pessoalmente não vejo muita graça nisso. Prefiro eu mesma descobrir o que é relevante pra mim saber, e de repente procurar saber, desse ou daquele artista ou celebridade.
O motivo de eu estar falando sobre isso é uma reportagem veiculada em um jornal essa semana, que tratou de descobrir a escola onde o jogador Neymar estudou, quer dizer, a escola que o jogador frequentou. Prefiro assim, mesmo que soe como preconceito. Direi porquê. Na chamada para a reportagem, Tande pergunta: “E será que Neymar era o craque da escola onde jogava? Será que era bom aluno?”. Interessante colocação da palavras e a sequência das curiosidades, não acham?
Em primeiro lugar, no que vai acrescentar a nova geração, ou mesmo a nós, educadores e afins, saber onde era a escola do Neymar? Será que ter estudado lá fez diferença para a atual carreira dele? Isso quer dizer que se outras crianças sentirem que são os próximos Neymares da vida, deverão se matricular na maravilhosa escola formadora de craques?
Em segundo lugar, a tremenda jogada de marketing não para por aí. A princípio, no Brasil, o critério para se ganhar uma bolsa de estudos é ter boas notas. Ponto. Não existe ainda, no Brasil repito, uma política de isenção a quem tenha aptidões alheias ao meio acadêmico. Afinal, segue-se a lógica da necessidade. Para que um artista ou um atleta precisa de uma educação diferenciada? Nossa educação ainda é voltada para o Acadêmico. As pessoas precisam de base teórica para exercer profissões técnicas. Note-se que, na reportagem, a professora dele disse que ele “ficava sempre na média”. Depois vamos discutir sobre o que é uma média.
Hoje, graças à democratização do ensino público, todo mundo tem vaga garantida em qualquer escola pública. E digo de cadeira: o ensino público está melhorando, em muitos aspectos, principalmente em relação ao pessoal. Os professores em sua maioria são recém formados, o que ao contrário da Medicina por exemplo é vantagem. Nossas mentes estão mais frescas, as metodologias aprendidas estão atualizadas e estamos mais próximos em idade da nossa clientela, o que nos faz entender e trabalhar melhor com eles. E acima de tudo, o que eu sempre digo para eles é que não é a roupa que faz o monge. Não é a escola que vai fazer diferença. É o esforço individual. Tenho ótimos alunos, que estão genuinamente interessados em aprender e não apenas passar, a quem dedico um esforço só comparado ao de escola de línguas onde trabalhei. Aos outros, procuro tirar dúvidas, mas à medida em que percebo, durante uma explicação, a conversa paralela deliberada, nem me dou ao trabalho de repetir as instruções do exercício. Para esses alunos, sou “ignorante” e “grossa”. Desculpem amores, nada pessoal.
Já perdi a conta das vezes em que discuto “professions” com meus alunos, sempre perguntando o que os pais e mães são, para que eles exercitem o vocabulário, e quando passo para o que eles querem ser, ouço alguns “soccer players”, mas a maioria responde, no velho e bom português, “traficante”. Nota: “minha” escola não fica em comunidade não. Para esses, nem reportagem do Neymar na escola, nem bolsa de estudos em escola cara vão mudar o fato de que seus ídolos estão bem mais próximos e são bem mais fáceis de seguir do que os da televisão.
Marradinhas carinhosas